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Definição encontrada no Dicionário de Cidadania
16 de Março de 1974 (Insurreição do Regimento de Infantaria nº 5 das Caldas da Rainha) > Revolução dos Cravos

No dia 25 de Abril de 1974, diversos oficiais integrados no Movimento das Forças Armadas (MFA) coloca o ponto final no regime autoritário designado salazarista-caetanistta, cuja origem remontava a 28 de Maio de 1926, quando tropas comandadas por Gomes da Costa liquidam a I República.

Após quase quarenta anos do 25 de Abril, certo sector da sociedade portuguesa continua a considerar o acto um golpe militar a quem apodam de abrilada. Esta corrente de opinião, ultra minoritária, não desarma no propósito de manter a ideia de bambúrrio a resultar em quartelada vitoriosa, apesar da real/realidade demonstrar de forma inequívoca que a acção dos militares rapidamente tomou a forma e conteúdo de Revolução.

Se a entusiástica adesão da esmagadora maioria da população portuguesa a tão importante acontecimento, se o acto simbólico da criança a colocar um cravo no cano da espingarda de um soldado, se a imediata abolição dos serviços de censura e dos órgãos repressivos do regime ditatorial mais antigo da Europa não são elementos suficientes ou não convencem os espíritos ressabiados, ofendidos e zangados com o "25 de Abril” para lhe concederem a dimensão de Revolução, o programa do MFA, só por si outorga-lhe tal condição. O seu travejamento assentava em três D, s – democracia, descolonização e desenvolvimento. Vejamos em apertada síntese o seu significado: 

· Plano político: democratizar.

Só os próceres e clientelas do sistema extinto eram contra a instauração da democracia caucionadora da liberdade de expressão de pensamento, eleições livres, banimento da polícia política, dos tribunais plenários e restantes organismos próprios dos regimes ditatoriais. A democratização do País é elemento fulcral da Revolução de Abril. 

· Plano militar e político: descolonização.

Uma das muitas causas da Revolução reside na guerra colonial, sorvedouro de vidas e recursos, obrigando os oficiais do quadro permanente a sucessivas missões nas colónias, sendo particularmente fustigantes na Guiné e em Moçambique, em Angola a actividade do MPLA, Unita e menos a FNLA, estava confinada a bolsas territoriais de menor significado levando em linha de conta a sua extensão territorial.

Militarmente a descolonização efectuou-se de forma atabalhoada, nalguns casos de maneira desastrosa, até achincalhante para a nossa dignidade enquanto País, além de desrespeitar a memória de todos quantos verteram sangue e perderam a vida no cumprimento do dever. Não está em causa a justeza ou não da guerra em si, está, isso sim, o facto de na altura da admissão dos nossos erros não termos sabido proceder à retirada com sentido de Estado, sem esquecer a protecção dos portugueses e seus haveres que retornavam a Portugal.

O grosseiro e precipitado regresso das nossas forças armadas castigaram severamente os portugueses nascidos e a viverem nas colónias, provocando ódios e ressentimentos que perduram, acarretando a debilidade de Portugal nas negociações com os movimentos de libertação. O slogan – nem mais um soldado para as Colónias – impôs-se nos quartéis, deixaram de existir condições para a rendição e refrescamento das tropas nas "colónias”, triunfou a indisciplina na maioria das unidades militares, poucas escaparam à balbúrdia, deu-se o desastre.

Acresce a tão gritante fraqueza as contradições reinantes a nível político entre os representantes dos partidos e os militares nos governos provisórios, a redundarem numa descolonização apressada e traumatizante. 

· Plano social: desenvolvimento.

Erros em abundância na prospectiva e no planeamento, decisões de grande importância tomadas ao arrepio do estudo, da reflexão, da análise da causa das coisas e do bom senso, favoritismos partidários são parte integrante do deve e haver do gasto de dias e anos até atingirmos o grau de desenvolvimento esboçado no referido documento do MFA, no entanto, ninguém, mesmo os eivados de má fé podem negar o facto de tal propósito, apesar de tudo, ser uma evidência em todos os sectores da sociedade portuguesa, os indicadores de organismos internacionais o confirmam. E, a génese, está no ocorrido dia 25 de Abril de 1974.

Porquê e como aconteceu?

Foi, sobretudo, pelo ranço da guerra – dezasseis anos – que se gerou o Movimento dos Capitães. Dezenas, talvez centenas de obras, milhares de documentos soltos, memórias, biografias, narrativas, filmes, canções, relatos de espiões, relatórios de várias proveniências, até hagiografias e anedotas explicam ou tentam explicar as causas longínquas e próximas do 25 de Abril. E, no entanto, prosaicamente, os capitães estavam saturados ou mesmo cansados de arriscarem a vida e dos homens debaixo do seu comando, sem vislumbrarem solução militar para o conflito, mormente na Guiné, a qual tinha declarado unilateralmente a independência em Medina do Boé, e em Moçambique.

A suprema razão reside neste facto que se tornou poderoso foco de irradiação de revolta a suscitar o interesse da generalidade dos capitães, e alguns oficiais superiores, majores e tenentes-coronéis. A primeira reunião dos "insubmissos” ocorre no dia 21 de Agosto de 1973, na Guiné, a partir dessa data sucederam-se as reuniões, levando os ultra-direitistas civis e militares a farejarem o perigo, também se reúnem, preparam um golpe de Estado, só que, não consegue romper a casca do ovo onde a ideia germina, dada a acção dos elementos do Movimento dos Capitães. Há ainda a referir o facto de antes de 25 de Abril, no dia 16 de Março alguns capitães da ala spinolista fomentam a insurreição do Regimento de Infantaria N.º 5, das Caldas da Rainha, resultou num acto falhado devido ao isolamento daqueles activistas e da falta de coordenação com o grosso da estrutura do MFA.

Seria estultícia salientar este ou aquele "capitão” na perspectiva de o mais relevante responsável pela finitude de um sistema político circular, cerceador da liberdade em geral, caduco, adepto do obscurantismo da generalidade da população portuguesa. Mas, parece-me de inteira justiça salientar o Capitão Salgueiro Maia, ele foi e é paradigma da generosidade (Marcelo Caetano o salientou), do desprendimento, do anti-herói, do cumprir a missão e regressar ao lar, fugindo das honrarias, promoções e mordomias.
(última alteração: Dezembro de 2013)
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