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Definição encontrada no Dicionário de Cidadania
Bibliotecas

Desde templos de sabedoria na Antiguidade a catedrais da informação nos dias de hoje, as bibliotecas conheceram um longo e às vezes sinuoso percurso, olhadas com suspeição por todos quantos as entendiam (e muitos ainda entendem) como depositárias de ideias e de ensinamentos perigosos para a ordem escorada no quero, posso e mando de variadas origens e tonalidades. Exemplo de tão negregada realidade, é fanático do obscurantismo chamado Omar, ele mandou incendiar a lendária biblioteca de Alexandria que possuiria 400.000 volumes, noutros lados sucedeu o mesmo, sendo tristemente célebres as queimas de livros e documentos no decorrer dos séculos dada a sinistra predisposição do homem para atormentar o homem dotado de espírito crítico, ávido de conhecimentos, adepto da experimentação e curioso no saber a causa das coisas. Felizmente, a besta humana tem sido castigada, às vezes menos quanto devia, levando ao triunfo do espírito, afirmando-se as bibliotecas como instrumentos vitais para a transmissão de sabedoria em todas as áreas do conhecimento.

A palavra biblioteca fala grego, resultando da aglutinação de dois elementos biblion, livro, e thékê, caixa, armário, sítio onde se guarda alguma coisa. Etimologicamente biblioteca significa sala ou lugar onde se depositam e guardam livros, no entanto, a usura do tempo alargou-o a: 

a) Edifício destinado a receber e guardar livros e documentos em vários suportes devidamente tratados científica e tecnicamente, arrumados e ordenados segundo as normas adoptadas e colocados à disposição do público. 

b) Colecção de obras publicadas por uma editora ou por entidade pública ou privada, de acordo com determinado conceito, considerada dentro desta perspectiva, a Biblioteca poderá centrar a sua atenção neste ou naquele assunto ou matéria procurando assim suscitar o interesse de públicos específicos. 

c) Armário ou estante onde se arrumam livros. No passado usou-se o termo livraria para designar a biblioteca, especialmente nas casas possidentes e ordens religiosas. 

As especificações acima referidas interessam no alcance retrospectivo da história das Bibliotecas, no mais, uma biblioteca não é o edifício ou o armário para se guardarem os livros, é isso sim, uma colecção de livros devidamente organizada para uso. O entendimento primacial do conceito de biblioteca é: colecção, organização e disponibilidade para plena assumpção do uso dos livros e outros documentos de acordo com o desejo e interesse dos públicos que os procuram.

As bibliotecas dividem-se em: bibliotecas nacionais, bibliotecas públicas, bibliotecas escolares e universitárias e bibliotecas especiais. 

A existência de Bibliotecas remonta a milhares de anos, escavações arqueológicas realizadas na Mesopotâmia revelaram algumas bibliotecas, os livros eram tijolos, a mais conhecida é a de Assurbanipal, rei dos Assírios. Como não havia papel e o barro existia em quantidade e possuía qualidade escrevia-se nesses tijolinhos que depois secavam ao sol ou eram cozidos. Os catálogos das Bibliotecas sumérias agrupavam os livros pelo título em duas colunas, no diminuto rectângulo de barro de seis centímetros e meio de comprimento e três centímetros e meio de largo.

A predisposição do homem para reter tudo quanto lhes interessa, e porque não podia nem pode guardar na memória a totalidade dos interesses, redundou na criação e organização de bibliotecas, envolvendo vários materiais. À medida que as bibliotecas ganhavam importância, por um lado eram objecto de cobiça de invasores e conquistadores, por outro granjeavam inimigos poderosos, pelo temor dos efeitos que os livros produziam nas mentes de quem os lia.

A primeira biblioteca pública é obra de Varrão no cumprimento de instruções de César, no âmbito particular, os patrícios romanos possuíam bibliotecas nos seus palácios.

Os árabes favoreceram a criação de bibliotecas a maioria na dependência das mesquitas, o mesmo fizeram os cristãos nas abadias, mosteiros e conventos. As bibliotecas desses tempos recuados aumentavam os seus fundos bibliográficos conforme o labor dos copistas que nelas trabalhavam.

Nos alvores da independência de Portugal já existiam bibliotecas (livrarias) junto das escolas monásticas para mestres e escolares usarem. A acção das ordens religiosas na recolha, preservação e difusão do conhecimento é de incomensurável grandeza, levando reis e nobres a seguirem-lhe o exemplo, formando-se notáveis livrarias. O rei D. João I iniciou uma, o filho D. Duarte aumentou-a, o neto D. Afonso V elevou-a à condição de melhor na sua época.

Apesar de muitas bibliotecas criadas pela nobreza visarem mais a ostentação que a instrução, só pelo facto de recolherem e preservarem documentos à beira da destruição merecem elogio, no que tange a bibliotecas ricas, mesmo faustosas, existem duas em Portugal de primeiríssimo plano, fazendo parte do reduzido número de Bibliotecas consideradas de visita obrigatória a nível mundial. São a Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra e da Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra.

A frutuosa acção das bibliotecas conventuais no passado, a acção de reis e poderosos no seu estabelecimento, não obstaram a que até bem dentro do século XX grande percentagem da população portuguesa não fosse analfabeta. A partir do século XIX, os ventos da Revolução Francesa e os ideais republicanos a sopraram forte dando origem a campanhas visando a instrução das camadas populares e consequentemente o incremento de bibliotecas a funcionarem na dependência de toda a casta de associações. Esse incremento é mais notório após a implantação da República, originando a criação de bibliotecas móveis, embrião das futuras bibliotecas itinerantes. Há ainda a referir a notável acção cultural e técnica da Biblioteca Nacional no período republicano, sendo o denominado grupo da Biblioteca um escol de enorme valia intelectual que integrava Aquilino Ribeiro, Câmara Reis, Jaime Cortesão e David Ferreira entre outros, e cuja alma-mater era Raul Proença, filósofo, publicista e exímio bibliotecário.

A carência de recursos, o facto de a leitura não ser prioritária nos desígnios dos governos e, até alguns próceres do Estado Novo a julgarem nociva para a felicidade do povo, geraram o atrofiamento da generalidade das bibliotecas portuguesas, sendo as excepções a confirmação da regra. Até 1958. Com efeito, no dia 13 de Maio de 1958, na Praça de Luís de Camões em Lisboa, realizou-se a exposição das primeiras quinze bibliotecas itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian. O Presidente da Fundação interpretando o pensamento do fundador, entendeu que uma das formas de lhe dar valimento seria o de criar uma rede de leitura pública gratuita (debaixo do lema "se o homem não vai à procura do livro, o livro vai à procura do homem”) capaz de contribuir para o desencravamento cultural e educacional de povo português. O êxito da iniciativa excedeu todas as expectativas obrigando a Fundação Gulbenkian a desdobrar a rede em parceria com Autarquias e Associações culturais, a par das Itinerantes surgiram as Bibliotecas Fixas dotadas de melhores e maiores fundos bibliográficos, permitindo ainda a organização de múltiplas actividades de promoção da leitura. No entanto, uma rede deste género necessita de avultados investimentos de modo a manter constante actualização das colecções e equipamentos, além disso as bibliotecas europeias a partir dos anos cinquenta sofreram profunda transformação na esteira das americanas e canadianas. A Fundação tinha uma função supletiva.

Em 1949, saiu o Manifesto da Unesco sobre a biblioteca pública (novamente publicado em 1972 por motivo do Ano Internacional do Livro), as bibliotecas principiaram a alargar a sua missão e actividades, a generalização do uso de computadores e toda a parafernália a eles adstrita respondia aos desejos dos bibliotecários e facilitava o acesso à informação trazendo-lhe outras funcionalidades, os ditos templos do saber passavam a ser instrumentos de desenvolvimento também na esfera económica. A mudança impunha-se, profunda e competente.

As nações do Norte da Europa tomaram a dianteira, em Portugal é a então Secretária de Estado Teresa Patrício Gouveia que no início da década de oitenta inicia o movimento de renovação das bibliotecas públicas. A sua formidável iniciativa merece referência individual.

A paisagem cultural portuguesa alterou-se com a construção de dezenas de bibliotecas públicas, o efeito positivo multiplicou-se estendendo-se às bibliotecas escolares e universitárias, alargando-se os benefícios ao universo da arquitectura e do designer. Os arquitectos conceberam e concebem obras de grande qualidade estética a merecerem prémios internacionais de variados matizes, o mesmo sucede relativamente aos criadores de mobiliário e decoração.

(última alteração: Dezembro de 2013)
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