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Definição encontrada no Dicionário de Cidadania
Partido Renovador Democrático (PRD) > Partido Renovador Democrático (PRD)

A 6 de Outubro de 1985 realizam-se eleições legislativas. O PSD ganha-as com 29,8 % dos votos, seguido do PS com 20,8%, do PRD com 18%, da APU com 15,6% e do CDS com 9,96%.

O inusitado deste facto político centrou-se no surpreendente resultado alcançado pelo PRD, o qual provocou estupor aos dirigentes do Partido Socialista e exclamações de espanto à generalidade dos analistas políticos. O PRD criou-se na sequência do desconforto político existente na sociedade portuguesa relativamente à governação do Bloco Central, ao facto de as feridas deixadas no Partido Socialista pelo processo e campanha que levou à reeleição presidencial do General Ramalho Eanes em vez de sararem, terem ficado mais avivadas e, também, porque inúmeros activistas da CNARPE (Comissão Nacional da Reeleição do Presidente Eanes) sem filiação partidária, os denominados independentes, entenderam ter chegado o momento de passarem à acção criando um Partido, um partido diferente, um partido sem truques, o partido da ética e da moral, capaz de regenerar o sistema político português.

Se o pensaram, melhor o fizeram em termos práticos, no círculo de Belém, os conselheiros e membros do gabinete de Ramalho Eanes recebiam personalidades de relevo na diversas áreas do saber e da política, trabalhando denodadamente de modo a esse objectivo se concretizar, apenas existiam dúvidas acerca do modelo organizativo, isto é: Movimento ou Partido. Na província a maioria dos mandatários e suas comissões esforçavam-se abertamente, no pressuposto da criação do Partido, o partido da esperança, da renovação do modo de fazer política e actuação no desempenho de cargos públicos.

Em Belém especialistas e estudiosos de vários quadrantes, muitos carregando desilusões da militância partidária no Partido Socialista e no Partido Social-Democrata concebiam documentos de reflexão e análise sobre variáveis e possibilidades de afirmação de uma nova formação política. De Norte a Sul, "os eanistas” independentes e filiados nos partidos existentes empenhavam-se no levantamento de estruturas capazes de darem corpo e sustento ao Partido, tinha de ser partido, a ideia de movimento não lograva adeptos, apontava-se como razão primacial da rejeição a ínfima implantação política do MDP/CDE, considerado satélite do Partido Comunista. A massa hierodiversificada dos eanistas englobava deserdados do socialismo, dissidentes da social-democracia, desiludidos dos movimentos de esquerda e de direita, até figuras vinculadas ao Estado Novo. Esse conjunto de pessoas defendia e queria um partido, diferente dos outros, a palavra de ordem radicava-se na diferença do modo de «fazer política». Obviamente, o partido não podia prescindir da figura tutelar de Eanes, além de aglutinador, constituía carta segura no referente ao arrecadar de votos, mesmo os menos predispostos ao eanismo percebiam o seu valor enquanto trunfo eleitoral.

Dos contactos telefónicos e dos encontros de cariz local passou-se ao exercício de reuniões de âmbito regional, a primeira de natureza nacional deu-se nos finais de 1983, em Cortes, arredores de Leiria, na casa de um empresário cujos laços de amizade com o General Ramalho Eanes eram fortes e antigos. A partir daí activaram-se os preparativos de criação do partido, a 6 de Maio de 1984, em Tomar, após a reunião na qual compareceram delgados de todos os distritos, o comunicado emitido no final dos trabalhos refere sem rodeios a proximidade da data da criação do partido. A referência, veemente, ao Partido constituía resposta a individualidades do círculo íntimo de Ramalho Eanes defensoras da constituição de um movimento, não de um partido. O triunfo da tese a favor da criação do partido em detrimento do movimento deixou sequelas traduzidas no auto afastamento de eanistas descrentes na eficácia da fórmula partidária.

A situação política degradava-se, Ramalho Eanes detinha nas mãos o poder de dissolver a Assembleia da República (assim aconteceria), o tempo urgia, em Lisboa os peritos redobravam de actividade na produção de documentos orientadores e de análise da conjuntura, na Província iniciava-se o recrutamento de todos quantos estivessem interessados em aderirem ao partido da renovação, o partido de Eanes dizia-se a todo o tempo e transe. No dia 17 de Março de 1985, a Comissão Nacional Provisória elegeu uma Comissão Directiva Nacional Provisória constituída por: Hermínio Martinho (Presidente) de Santarém, António Féu, Algarve, Ana Gonçalves, Setúbal e Juventude, António Loja, Madeira, Arménio Ramos de Carvalho, Coimbra, Fernando Dias de Carvalho, Castelo Branco, João Dias Coelho, Lisboa, João Leão Meireles, Viseu, José Carlos Vasconcelos, Lisboa, Roberto Amaral, Açores. Na sequência, foi igualmente eleita a Comissão Organizadora da I Convenção Nacional do PRD, composta por: Hermínio Martinho, João Botequilha e Miguel Caetano.

As etapas seguintes passaram pela aprovação dos Estatutos e do Programa, depois foi só aguardar a dissolução do Parlamento e a marcação de eleições.

A desregulação ideológica do PRD tinha como contraponto os princípios fundamentais consagrados nos Estatutos, os quais podem ser sintetizados no artigo 2.º, do Capítulo II, que se transcreve: ”O Partido constitui-se para mobilizar a confiança dos Portugueses na sua efectiva capacidade de criar um presente melhor e mais humano e na vontade de preparar um futuro mais digno e uma sociedade mais justa.”

Após o conhecimento da ampla e inesperada percentagem de votos conseguida, diversos dirigentes nacionais e distritais reconheceram as dificuldades que tal resultado acarretava, mais do cedo do que esperavam elas irromperam, umas por impreparação, outras por vaidade, outras ainda por insatisfação dos arredados do passadiço da notoriedade e da ocupação de lugares, A articulação dos 45 deputados eleitos revelou-se eriçada de dificuldades, só a mão firme, o olhar perscrutador e o profundo conhecimento dos mecanismos parlamentares do experiente deputado Magalhães Mota, fundador do PSD, impediu a assumpção do amadorismo, da expressão populista e seguidista, do improviso, sem conceder espaço e relevo ao sentido de Estado. Os erros a nível organizativo trouxeram ao de cima as debilidades de um partido que se dizia (alguns pretendiam-no) renovador da praxis política, no entanto, não tardou a imitar os restantes, em diversas ocasiões para pior. As eleições autárquicas ocorridas no mês de Dezembro de 1985 são disso claro exemplo, o processo eleitoral relativo ao concelho de Lisboa foi instruído de forma incorrecta originando grande clamor porque o partido da ética tinha de, obrigatoriamente, dar o exemplo, antes pelo contrário propiciou péssimo exemplo, a nível nacional apenas ganhou três municípios em parte pela tibieza e indefinição dos órgãos dirigentes nacionais no que concerne à atempada construção das listas.

A eleição de Ramalho Eanes como presidente do Partido depois de ter deixado as funções de Presidente da República não trouxe melhorias na esfera da consolidação da coluna dorsal do partido, nem acalmias no que tange à ambição e desejo de notoriedade dos seus principais responsáveis. Praticava-se a intriga, desenvolvia-se o princípio grupal dos nossos e dos vossos.

A sofreguidão não saciada de exercício do poder a nível nacional levou dirigentes detentores de enormes responsabilidades a abrirem os ouvidos ao canto da sereia socialista, que os convenceu a apresentar uma moção de censura ao governo minoritário de Cavaco Silva. Todos estavam confiados na impossibilidade de Mário Soares, então Presidente da República, de dissolver a Assembleia e convocar eleições legislativas. Puro engano. Mesmo correndo o risco de causar graves prejuízos ao seu partido, o Partido Socialista, Mário Soares não ia perder o ensejo de ajustar contas com Ramalho Eanes, sem esquecer diversos militantes socialistas seus adversários de longa e fresca data, neste último pormenor o mais destacado foi o honrado cidadão Francisco Salgado Zenha. A miragem de um governo formado por socialistas e renovadores apoiados no Parlamento pelos comunistas esvaiu-se, pois Soares preferiu a solução de mandar os partidos à procura de votos.

Convocadas eleições, as mesmas realizaram-se no dia 19 de Julho, o PSD vence com maioria absoluta, o PRD arrecada 4,9%, de quarenta e cinco deputados passa para sete. A partir daí o PRD tropeça ano após ano em todos os degraus que o vão levar à irrelevância, pessoas ligadas à extrema-direita adquirem-no apenas com o fito de utilizarem a sigla. Assim feneceu um projecto que podia ter sido um factor de aprimoramento das instituições políticas, e não foi.

(última alteração: Fevereiro de 2014)
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