São recentes os conceitos de iliteracia e literacia. Antes contentávamo-nos com os conceitos de analfabeto/alfabeto, iletrado/letrado. As vincadas e múltiplas transformações que o Mundo sofreu nos últimos cinquenta anos levaram à necessidade de serem introduzidas novas concepções e noções desse mesmo Mundo a originarem outras designações.
Entende-se por analfabeto o desprovido de instrução elementar capaz de lhe permitir ler e escrever. É longa e triste a história do analfabetismo de um modo geral, e em particular na Nação portuguesa cuja independência enquanto Estado remonta a 1143. A fim de ilustrar esta afirmação a grande maioria da população portuguesa sempre viveu nas vascas do analfabetismo, em 1864, 88% dos portugueses com mais ou sete anos de idade não sabiam ler, ao invés noutros países europeus de modestos recursos (à época) caso da Noruega e Finlândia apresentavam altas taxas de alfabetização. Por cá o combate ao analfabetismo originava sermonários a favor da sua diminuição, no entanto, na prática os progressos eram demasiado lentos, assim em 1930, no referido grupo etário a taxa de analfabetismo ainda atingia a espantosa percentagem de 60%, a partir daí acelera-se a alfabetização, em 1970, a taxa situa-se nos 26%, continuando a ser alta no confronto com outros países que desde há muito apostavam na obrigatória escolarização dos seus habitantes. A partir da instauração da democracia (1974) as políticas educativas investem fortemente na erradicação da chaga, nos dias é residual e localizada nas pessoas mais idosas e grupos minoritários. Apesar dos enormes progressos verificados, há a registar o crescimento dos denominados analfabetos visuais que no entender de escritores, investigadores na área da educação e da sociologia da leitura e outros intelectuais é fenómeno originário na cultura de massas onde o acto de ler e interpretar o lido são secundarizados. Eis o fenómeno da iliteracia. Podemos dizer; analfabeto é o contrário de alfabetizado pois este último aprendeu a ler e a escrever com um mínimo de conhecimentos dos códigos alfabético e numérico e do sistema ortográfico. Dentro desta dicotomia, iliteracia é o contrário de literacia. Os atingidos pela iliteracia são incapazes de lidarem e utilizarem a generalidade dos materiais escritos. Ao invés, todos quantos possuem capacidades de processamento de informação escrita na via quotidiana vivem no universo da literacia.
É sinuoso de milhares de anos o trajecto da escrita cuja evolução é resultado da necessidade do homem em encontrar modos de comunicação capazes de escorarem o progresso cultural, científico e técnico. Os egípcios e os povos vizinhos que viviam nas margens do Nilo e na região do deserto arábico criaram um sistema de escrita baseado em figuras representativas das pessoas, dos animais e das coisas. Hieróglifos. Por exemplo: uma cabeça de boi representava o som correspondente ao A, do nosso alfabeto. Os fenícios dedicavam-se ao comércio a obrigá-los a grandes navegações, a sua mobilidade, a falta de tempo e a necessidade, impedia-os de desenharem as representações da vida, por essas razões alteraram os sinais recebidos dos povos vizinhos, inovando uma escrita simplificada, logo mais ágil.
Nas suas viagens os fenícios levaram com eles o seu alfabeto e impuseram-no nas colónias que dominavam, daí ir influenciar determinantemente o alfabeto grego primitivo. O grego primitivo evoluiu para o grego moderno, depois surge o alfabeto latino antigo, finalmente o latino em uso que é um dos travejamentos fundamentais da civilização ocidental.
Esta reduzidíssima súmula da trajectória da evolução da escrita até ao alfabeto latino (existem outros) permite perceber a importância capital da escrita no evoluir dos povos e das nações no colectivo, do Homem no singular. Tão ingente realidade mostra-nos até à exaustão o poder dos letrados relativamente aos iletrados. Na actualidade, desenvolvem-se projectos e programas no sentido da erradicação da iliteracia existente em enormes bolsas populacionais cuja incapacidade do domínio da escrita no seu dia a dia as torna mais expostas e vulneráveis a toda a casta de dificuldades.