A magnitude dos reis, levou à construção de entrelaçado sistema organizativo do Estado e da sociedade onde a dignidade real pairava sobre o sistema e era elo entre as três classes sociais: a nobreza, o clero e o povo. Para tal muito contribuíram os reis considerados taumaturgos. Ao longo de séculos a luta entre os reis e todos quantos lhe disputavam a autoridade e poder, normalmente, os nobres, deu azo a acontecimentos marcantes na história das nações, com largo e longo cortejo de grandezas e baixezas morais, acrescidas misérias materiais para os que perdiam, em particular e para o povo, sempre o mais prejudicado a fazer lembrar o aforismo onde entra o mexilhão.
O pináculo do poder real ficará conhecido como absolutismo. Poder absoluto. Ora, dentro deste princípio todos quanto atentassem contra o rei expunham-se a castigos terríveis antes de serem sentenciados a morrer de forma ignominiosa. O autor da morte dos reis ou rainhas era (é) um regicida. Apesar das violentas sanções contra os que ousavam atacar os reis, razões de fanatismo, vingança, revolta contra medidas consideradas injustas ou infamantes, ainda por convicção política; a história revela numerosos casos de regicídios, ainda mais se alargarmos o registo à Antiguidade e a outros continentes além da Europa.
Em Portugal dois atentados contras os reis continuam a fomentar teorias e convicções expressas em estudos entre a investigação isenta de paixões e impregnada de proselitismos de várias ordens e matizes. O alvo do primeiro foi D. José, cujo valido, o poderoso primeiro-ministro, Sebastião José de Carvalho e Melo atacava a nobreza e o poder da Igreja, especialmente dos jesuítas, acrescido do facto de o rei manter uma ligação adúltera com uma senhora da família Távora, levou a que fosse perpetrado atentado cujas intenções finais suscitam várias interpretações. Fracassou. As consequências demoraram a aparecer, de surpresa, os Távoras, o Duque de Aveiro, o seu filho e ainda outros nobres de menor estatuto foram presos, torturados e mortos após terem suportado humilhações e tenebrosos tormentos antes de serem executados. O outro atentado acabou em regicídio, já fora do absolutismo, nos alvores do século XX, mais precisamente a 1 de Fevereiro de 1908, o rei D. Carlos e o Príncipe herdeiro D. Luís Filipe são assassinados pelo professor Manuel Buíça e o caixeiro Alfredo Costa. Os dois regicidas foram mortos em circunstâncias a suscitarem controvérsia permitindo suposições inflamadas por parte dos adeptos da existência de mão oculta, ou mãos ocultas na preparação e consumação do acto. No caldeirão das causas fervilham os gastos da casa real, a erupção das ideias republicanas, as sequelas do Ultimatum, a crise financeira, o continuado desvalimento dos partidos do "centrão” o Regenerador e o Progressista, as campanhas de acirramento de ódios contra o Rei e a família envolvendo notórios monárquicos, ainda a incapacidade de uma governação capaz de aliviar a carência existente a atingir a maior parte da população, por fim a impopularidade das medidas tomadas pelo primeiro-ministro João Franco, o qual iria governar em regime de ditadura. Esta última medida seria a gota a fazer entornar o copo. As consequências mais rotundas corporizaram-se na Rotunda a 5 de Outubro de 1910, ao ser proclamada a República.
A morte do rei provocou consternação e receio nas casas reais europeias, tendo sido objecto de grande atenção por parte da imprensa estrangeira na só na Europa, também no Brasil, Canadá e Estados Unidos. Os regicidas mereceram o interesse dos jornalistas e as suas fotos ilustravam as notícias. Notoriedade para Alfredo Luís da Costa, caixeiro e editor fracassado, natural de Castro Verde, tinha 22 anos, e Manuel dos Reis da Silva Buíça, de 32 anos e natural de Bouçoais, concelho de Valpaços. O regicida Buiça pela imponência das suas longas barbas, do seu passado de activista e alta perícia como atirador, obteve maior relevo na imprensa e nas obras que continuam a ser publicadas referentes ao regicídio. Assim se compreende que figure no The Book of Assassins, de George Fetherling, editado em 2006, pela Castle Books, emparceirando com Agripina, César Bórgia, Brutus, Charlotte Corday, Faisal, Lee Oswald entre outros.
O Buíça era filho do Padre Abílio da Silva Buiça, abade em Bouçoais, e mais tarde de Vinhais sua terra natal, teve outros filhos, estimado pelas autoridades eclesiásticas terá aderido à causa republicana de forma decidida.