Francisco António Lucas Pires é um dos políticos mais marcantes da segunda metade do século XX em Portugal e na sua projeção europeia.
Dele, disse o seu contemporâneo, chanceler alemão Helmut Kohl, que "marcou no Parlamento Europeu, de forma decisiva os trabalhos de integração europeia” e que "Francisco Lucas Pires marcou incontestavelmente a integração europeia como comunidade cultural e de direito. Acompanhou os tratados de Maastricht e de Amesterdão com a qualidade de eminente Professor de Direito constitucional e como político europeu”.
Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, foi um dos seus mais distintos e bem classificados alunos. Doutorou-se pela Faculdade de Direito de Coimbra por unanimidade e com a classificação máxima. Foi Professor da mesma Universidade e também de outras universidades portuguesas.
Foi Deputado à Assembleia da República e Presidente das Comissões Parlamentares
de Negócios Estrangeiros e do Poder Local. Foi Presidente do CDS-Partido do
Centro Democrático Social (1983 – 1985). Por deriva anti-europeísta do CDS saíu
em 1991. Em 1997, após a adesão do PSD ao Grupo PPE no Parlamento Europeu,
filiou-se no PSD, de que foi destacado parlamentar (Vice-Presidente do
Parlamento Europeu em 1998).
Foi Ministro da Cultura e da Coordenação Científica (1982 – 1983).
Foi membro do Conselho de Estado (1983 – 1985).
Foi o primeiro Vice-Presidente português do Parlamento Europeu (1986 -1987), função para a qual foi eleito por unanimidade.
Foi Coordenador e Porta-Voz político do Grupo Parlamentar do PPE e 1º Vice-Presidente da Fundação Democrata Cristã Europeia para a Cooperação.
Pai de quatro filhos, casou com Teresa Almeida Garrett, que viria a ser deputada ao Parlamento Europeu na legislatura 1999-2004.
Faleceu em 22 de maio de 1998, com cinquenta e três anos.
Foi-lhe atribuída a Medalha Robert Schuman do PPE em 5 de fevereiro de 1999, a
título póstumo.
O Parlamento Europeu atribuiu o nome de Francisco Lucas Pires à sala principal da sua Biblioteca, local escolhido pelo Presidente da República Portuguesa, Professor Marcelo Rebelo de Sousa, para reunir com os deputados portugueses eleitos ao Parlamento Europeu na sua primeira deslocação oficial ao Parlamento, em Bruxelas.
A política era para Francisco Lucas Pires atividade essencial, dever de humanidade e solidariedade com os seus concidadãos. Nunca se furtou a um combate de ideias. Apresentou e defendeu corajosamente, e nos tempos próprios, soluções que estudava para os grandes problemas nacionais e europeus. Desde a reforma do regime político defendida em 1970, a pistas para a questão ultramarina em 1972, aos trabalhos de preparação da Constituição do regime democrático, às reformas do sistema no período pós revolucionário e preparação para a adesão à CEE, às grandes reformas das Comunidades Europeias até à União Europeia e ao projeto de Constituição para a Europa, Francisco Lucas Pires marcou por intervençoes académicas, de responsável politico e de cidadão, nos parlamentos, em livros, nas televisões, rádios e jornais, uma época de esperança e de profunda mutação da sociedade portuguesa e europeia em que viveu.
O Presidente da República Jorge Sampaio, que o distinguiu a título póstumo com a Ordem de Cristo, em 10 de junho de 1998, assinalou com justiça que "Lucas Pires soube, como poucos, trazer a Europa até nós, a Europa de todos os dias, das identidades e das culturas, dos avanços e recuos, a Europa dos valores e do projeto, em suma, se quisermos, a Europa dos fundadores, a de uma comunidade de destino, aquela que combina identidades diversas com a partilha de valores comuns que são hoje sem imposição alguma, património da Humanidade”.
De Francisco Lucas Pires e dos seus escritos publicados fica-nos uma visão da política vivida com alegria, a política como um exercício de probidade e independência, de imaginação e rigor, de cultura e de democracia.
Francisco Lucas Pires ensinou-nos a ler uma mais vasta dimensão da portugalidade na cidadania europeia, orgulhoso em ser parte do povo e da História de Portugal e feliz por encontrar na Europa novas dimensões e forças para a expressão da nossa maneira singular de estar no Mundo.
Vinte anos depois de ter partido, Francisco Lucas Pires está sempre presente, como referência essencial e incontornável, quando lemos, discutimos ou pensamos sobre a Europa e sobre o nosso futuro. É isto que caracteriza e distingue os visionários. É urgente, hoje e sempre, voltar a visitar a sua obra e o seu exemplo.
Obras publicadas de Francisco Lucas Pires:
Autor de vários livros sobre Direito Constitucional e assuntos políticos entre os quais «O Problema da Constituição» (1970); «Soberania e Autonomia» (1974); «Uma Constituição para Portugal» (1975); «Na Hora Europeia» (1986); «Teoria da Constituição de 1976 : A Transição Dualista» (1988); «Tratados que Instituem a Comunidade e a União Europeias» (2ª ed., 1994); «Os Novos Direitos dos Portugueses» (1994); «O que é a Europa» (2ª ed., 1994); «Portugal e o Futuro da União Europeia» (2ª ed., 1995).
Obras publicadas postumamente:
• Introdução à Ciência Política, em outubro de 1998;
• Amesterdão: Do Mercado à Sociedade Europeia, em janeiro de 1999;
• A Revolução Europeia, antologia de textos maio 2008