Se há no pós-guerra individualidades europeias que têm justamente sido identificadas como os pais da construção europeia, é hoje evidente que de entre os muitos que contribuíram para o seu sucesso se destaca o nome do francês Jacques Delors, que presidiu à Comissão Europeia entre 1985 e 1995.
Foi com Jacques Delors que se passou da «Eurosclerose» de 1985 à «Euroforia» de 1995, com a aprovação do Tratado de Maastricht e o objetivo da União Económica e Monetária.
Contrariamente à prática atual, Delors não havia sido primeiro-ministro, nem era tido como uma grande personalidade política em França, não obstante uma carreira profissional brilhante que o guindou a Ministro das Finanças e uma militância ativa e empenhada no sindicalismo cristão.
Com Delors adotou-se o Ato Único Europeu que abriu as portas à cooperação política entre os Estados-Membros.
Com Delors fez-se o Mercado Interno Europeu, talvez o mais decisivo e difícil passo na construção europeia, que permitiu criar um mercado de 450 milhões de pessoas e acabar com barreiras à liberdade de circulação de pessoas, bens materiais e serviços.
Com Delors avançaram-se as políticas de coesão económica e social bem enquadradas no desenvolvimento estratégico da UE (através dos Pacotes Delors I e II).
Com Delors aceitou-se o princípio e preparou-se a introdução da moeda única, através da União Económica e Monetária, preconizados, aliás, por Delors já em 1985.
Mas Jacques Delors foi também o instigador da tónica social das políticas empresariais, o fomentador do diálogo e concertação sociais a nível europeu, bem como o grande impulsionador dos programas de mobilidade dos jovens como o Erasmus ou Leonardo.
Jacques Delors sempre defendeu uma visão estratégica para a Europa assente na matriz tradicional e no mosaico das suas culturas, rejeitando uniformismos estéreis e redutores.
Sempre através do diálogo e da persuasão com o Parlamento Europeu ou no âmbito do Conselho Europeu ou de Ministros, Delors era referência incontornável e decisiva.
Portugal, como outros países de menor dimensão e riqueza, teve sempre em Delors um homem atento e amigo. A Europa teve em Delors um construtor do seu presente e uma referência perene para o seu passado.